domingo, 6 de novembro de 2011

Ao que não conheço

Passava por ruas que meus olhos desconheciam, vi flores no asfalto de singular beleza, que até me assustei! Antes minhas retinas só refletiam pedras brutas, concretos que aprisionavam a levesa do dia. Porém o perfume fluiu e percebi a flor. Quebra de paradigma... caminhei por horas re-conhecendo as impressões que surgiam dos lugares que havia esquecido. Flores surgiam até dos latões de lixo! Ah! aquela centenária praça, segredo dos amantes que brindavam com algodão doce a simplicidade de apenas estar, outros que escondiam-se com a bênção da lua dos olhos que estão a vigiar, complexos por natureza, depois da lua, escapes, a fuga para fora do eixo. Deixo a praça, vou aos becos, vertigem logo me alcança, e lança longe... não há como fugir, a noite impregna os espíritos inquietos. A vala aberta que outrora corria esgoto fétido, canteiro de ratos, berço de larvas que namoravam baratas, escorre agora uma água clara, cemitério de margaridas. Há morte aonde existe vida. Não vi ratos entre as pétalas amarelas. O caos parecia outra vez ordenado, lembro da última vez que tive que organizá-lo, trabalho árduo, tal qual tirar os espinhos das rosas, para logo mais nascerem outras vez, só que mais fortes. É assim que o beco sempre funcionou, depois de cruzar a esquina, é uma constante entre o ir e vir, mas cada ida e vinda é uma nova experiência, o caos não se repete ele apenas renova-se. O beco que eu conhecia era sem saída, aquele que namoravam as larvas e as baratas, esse que era o mesmo, estava aberto, a água que preenchia o canal o fez um rasgo, abrindo-lhe uma ferida, linda cicatriz encontrei ao ter que encará-lo. Há na profundidade da dor algo de belo que me fascina. Se não cobrir a ferida pode-se acessar o manacial da cura. O oxigênio não deixa putrefar, é isso respirar. A vista que se alcança através da cicatriz não é descritível por meras palavras, mas posso tentar algumas analogias, tentar é sempre válido. O horizonte que se abria é como um oceano pairando no fundo de um abismo. Platô recoberto de rosas, verdes, laranjas e o cinza. Vulcão escarlate flamejante ao centro. Pásssaros muitos por todos os lados. No caminho não se esqueçam das cobras. Volto agora para o conforto do meu sossego, tentar domar meu desassossego. No caminho de casa encotro velhos conhecidos, aqueles da infância, todos estavam nos meus trilhos, cumprimento cada um, alguns com um simples balançar de queixo, outros com beijos e abraços apertados e tantos outros com um olhar de canto. Deixo-os para trás e vou de encontro aos meus. Encontros são infinitos, festejamos até os primeiros sinais da aurora. A vida continua e cada um segue a sua. Novos olhares nascem e assim a alquimia é feita, metal ordinário transformando-se em ouro.

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