segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Do Tempo

Sinto a sua mão pesada!
minhas costas curvadas
doem e querem se erguer
Saturno senhor do Tempo 
devolva o meu que roubou!
não me faça tão submissa
minha liberdade sente-se ferida!
Tenho asas que não se adaptam 
aos ponteiros das catedrais...


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O lixo, o bicho, o Homem

Hoje eu quero falar do lixo
quero descer ao abismo
não que o luxo não me atice 
e o céu não alcance
só que cansei do teu cheiro suave
quero o suor selvagem
o lixo é produto do homem
sua essência imunda
aterrada ao longe 
onde olhos se escondem
não quero saber do insípido
aquele gosto sem gosto
o fétido dos restos mortos dos outros
ratos, baratas, larvas
levam seu asco ao vômito
devolve pra terra o barro 
amargo em sopro profano
teu uivo deserto no lodo
ecoa no fosso da alma
sem lágrima alguma para ser derramada
gargalha solta no tempo
sem regras, pontos, encontros
recicla agora o lixo
não mata mais o bicho.
Ainda esquece do Homem?!

Lixo Extraordinário

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dias de trás pra frente

Dias de trás pra frente
corrente sanguínia
a saliva escorre para dentro da garganta
a boca agora é seca, taquicardia
- levanta cedo moça faceira!
acredita na levesa da vida, vai conforme o tempo
sem pregas no pensamento...
ah! se lembra daquela madrugada? aquela de todas as noites
a mesma da semana passa.


Pierre-Auguste Renoir - Menina colhendo flores 


sábado, 19 de novembro de 2011

Parece coisa normal

Aqueles velhos retratos - mofados 
não faz mais sentido
serem guardados
violência gratuita - distribuída
entre jornais, nets, chats
chato seu outro lado
não que seja bom
nem ao menos mal
a razão está a beira do caos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dias inteiros em que me perco
não de mim, mas do outro que há em mim
o sol lá fora chama! e a chama que há dentro?
queima feito brasa que nunca se apaga!
Você viu meu sorriso por esses dias?

domingo, 6 de novembro de 2011

Choram as mães

Deixava a velha casa empoeirada
as teias das aranhas agora solitárias
abafa o mofo ao calor do sol
risos, palhaços...

Meia volta ao olhar para trás
solto a sua mão para poder voar
invento um coração para amar
tão longe foi no rastro do poeta.

O menino e a bola
viola que chora noite de estrela
andei sem bússola
ardida é a pimenta que em mim habita!

Choram as mães, todas
vozes apagadas pelo seu medo
ecoam no vazio íntimo
as borboletas gostam de dançar.

Ao que não conheço

Passava por ruas que meus olhos desconheciam, vi flores no asfalto de singular beleza, que até me assustei! Antes minhas retinas só refletiam pedras brutas, concretos que aprisionavam a levesa do dia. Porém o perfume fluiu e percebi a flor. Quebra de paradigma... caminhei por horas re-conhecendo as impressões que surgiam dos lugares que havia esquecido. Flores surgiam até dos latões de lixo! Ah! aquela centenária praça, segredo dos amantes que brindavam com algodão doce a simplicidade de apenas estar, outros que escondiam-se com a bênção da lua dos olhos que estão a vigiar, complexos por natureza, depois da lua, escapes, a fuga para fora do eixo. Deixo a praça, vou aos becos, vertigem logo me alcança, e lança longe... não há como fugir, a noite impregna os espíritos inquietos. A vala aberta que outrora corria esgoto fétido, canteiro de ratos, berço de larvas que namoravam baratas, escorre agora uma água clara, cemitério de margaridas. Há morte aonde existe vida. Não vi ratos entre as pétalas amarelas. O caos parecia outra vez ordenado, lembro da última vez que tive que organizá-lo, trabalho árduo, tal qual tirar os espinhos das rosas, para logo mais nascerem outras vez, só que mais fortes. É assim que o beco sempre funcionou, depois de cruzar a esquina, é uma constante entre o ir e vir, mas cada ida e vinda é uma nova experiência, o caos não se repete ele apenas renova-se. O beco que eu conhecia era sem saída, aquele que namoravam as larvas e as baratas, esse que era o mesmo, estava aberto, a água que preenchia o canal o fez um rasgo, abrindo-lhe uma ferida, linda cicatriz encontrei ao ter que encará-lo. Há na profundidade da dor algo de belo que me fascina. Se não cobrir a ferida pode-se acessar o manacial da cura. O oxigênio não deixa putrefar, é isso respirar. A vista que se alcança através da cicatriz não é descritível por meras palavras, mas posso tentar algumas analogias, tentar é sempre válido. O horizonte que se abria é como um oceano pairando no fundo de um abismo. Platô recoberto de rosas, verdes, laranjas e o cinza. Vulcão escarlate flamejante ao centro. Pásssaros muitos por todos os lados. No caminho não se esqueçam das cobras. Volto agora para o conforto do meu sossego, tentar domar meu desassossego. No caminho de casa encotro velhos conhecidos, aqueles da infância, todos estavam nos meus trilhos, cumprimento cada um, alguns com um simples balançar de queixo, outros com beijos e abraços apertados e tantos outros com um olhar de canto. Deixo-os para trás e vou de encontro aos meus. Encontros são infinitos, festejamos até os primeiros sinais da aurora. A vida continua e cada um segue a sua. Novos olhares nascem e assim a alquimia é feita, metal ordinário transformando-se em ouro.

Sonhos contemporâneros

Nada sei além do que meu coração pulsa
frágil fêmea com medo de amar
olhar de macho que atiça o cio
fugir pra evitar o sofrer
fragmentos de Ser...

Corro em círculos
apanho ao longe teu sorriso
não me importa compromissos
mais vale a verdade que sai dos teus lábios
sou mente, coração,
vazios em meio ao mundo cão.

Hoje choro por momentos que não posso ter
os que tive fizeram querer você
algum deus brinca comigo
ao me dar pedaços do céu
e me atirar ao chão
a loucura no caos parece coisa normal.

Vou assim, passo a passo
deitar meu seio onde não te vejo.

Veneno e cura

Eu furo a melancolia escondida de outros Deuses, os que ainda dançam e voltam ao espetáculo das Deusas. Vou saborear cada arrepio enco...