quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Cadê o poeta?

Hoje caiu rimas
no meio da avenida
tropeços em versos
soltos, abertos
estrofes cadentes
sons desconectos
passavam passantes
pessoas e sexo
palavras pomposas
cheirando a rosas
alguém perguntou:

-cadê o poeta?

Vai!

Vai ao longe ver
o que não se alcança
cigana lê minhas linhas
emaranhadas nos teus nós
ventos vem varrer
a casa que mora só.

Vai ao longe ouvir
sons que já não ecoam
deusa vem há mim
cantar para minha dança
salto o rio sem fim
flor da esperança.

Vai ao longe sentir
os dedos que abandonou
demônios vão dormir
tato com ato, amor
desço o abismo
arranco a dor.

Vai ao longe ser
o eu que atrofiou
anjos vem trazer
fragmentos que abandonou
deixo o tempo nascer
rabisco o céu
transbordo cor.

Carpe diem

Voava perto do sol
quando lembrou  do voo de Ícaro
tarde era a manhã que cai
raízes queriam crescer
veio a flor do dia
novo amanhecer
azuis as borboletas
sem nada entender
borboletas não entendem
o que o sol tem a dizer.

Arte de Jo Ferreira

domingo, 23 de outubro de 2011

Injustiçada

Era grande a alegria
do novo que se abria
sem mais para quê
ao ponto de tentar
tudo estragar
caiu no engodo
de se entregar
seintiu-se traida
como assim não posso ver?
precisam de mim
quando falta você?
não, não, assim eu não aceito
eu participo por inteiro
sou máquina de sangue quente
suporto com os ombros
toneladas dos seus sonhos
tortos mal vividos
que eu agora
vou falar
cansei da dança ensaiada
dos risos com hora marcada
aquele café fraco que você me faz
há tempos não me satisfaz
deixei becos e esquinas
pó, naftalina
não me venha com reservas
a noite de ontem eu esperava por você
delirava acordada, mordia forte de tanta raiva
o veneno consegui sentir
era forte o fel
veias abertas jorravam
sangue sob meu tapete
minhas vísceras expostas ao teu olhar vazio
ando ao longe, escondo meu rosto de mim mesma
minhas vísceras continuam expostas
...
rajadas de ventos matinais me tiram do eixo
são os raios de sol, estão há acordar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ventos

Quando viu a si mesmo no espelho
assustado ficou, coisa esquisita é gente que acha que sabe
sabe que sabe
e acha
achou?
no horizonte os planos
tal qual castelos de cartas
não marcadas
o vento muda tudo de lugar.

Cria-Ativa

Quando as palavras surgem através de meus dedos
a mente esvazia,
tão solta...

rochas viram flores,
aromas de pedras frias
contando gotas,
crio amores
o medo
aperto...

desato o nó
no teu abraço
braços apertados
murmuro a saliva
da boca na boca
a minha na sua.

eu nua.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Pássaro sem asas

Quando há vi seus olhos falaram-me do vazio, pude ouvir seu silêncio que sussurrava canções não cantadas, o barulho que dela saía ecoou nos meus sentidos, eram gritos outrora sufocados, por instantes de eternidade soube o que deveria ser esquecido. Não falava palavras, era tato,  com tanto ato. A retina refletida no espelho, suava o corte vermelho, suas mãos desenhavam ao ar, sonhos que também eram meus. Como era possível? Era somente! Minha mente sedenta por explicações, obrigou-se a apenas contemplar. Depois de horas marcadas, daquelas que não querem passar, revelou-me segredos, tais que me dilataram, tanto as unhas arranhar. As marcas de seu rosto, fundos traços, estradas por onde foi cemear, fumaça de cigarros, carreiras, tragos, becos e esquinas, ah! não posso deixar de falar da menina, seu rosto, seus traços, juventude no palco, tangos, boleros, homens e pés, noites de cabarés. Ilusões que tecem o drama, subterfúgios pra propaganda. Estrela de brilho fosco, já desceu ao poço, sem corda. Tiraram-lhe a inocência, augúrios anunciaram à redenção. Veio o pássaro sem asas repousar ao lado dela, ela já era sem alma.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

pés molhados

andava descalça pelos espinhos, 
meus pés molhavam com o sangue quente
as rosas do meu jardim
exala o perfume da carne nua
rosas púrpuras, impregnadas de saudades suas
comecei a proteger minhas feridas
ando por entre espinhos
passos tristes, procurando risos.

domingo, 2 de outubro de 2011

Ferida

A navalha em minha mão
desfere um ato contra o coração
banhada no veneno do medo
dilacera o calor em gelo
impossível ter a levesa perene que tanto sonho
um macabro pesar
vem de longe me apossar
corro o risco ao encarar teu sorriso
parece-me puro tal qual delírio
invento enredos sonhos e pesadelos
algo me acontece de triste a alegre
não consigo a paciência
pra sorver a solidão
lento estágio
ando na contramão
sou bicho arredio que corre no escuro
procuro a pele que me faça arrepio
canso de valsa bossa serenata
vício intenso da paixão proibida
ferida aberta
sangue endorfina.

Veneno e cura

Eu furo a melancolia escondida de outros Deuses, os que ainda dançam e voltam ao espetáculo das Deusas. Vou saborear cada arrepio enco...